O Serviço Social do Comércio realiza entre os dias 18 a 23 de janeiro, às 19h, na sala de cinema e vídeo do Sesc Centro a Mostra Akira Kurosawa com o objetivo de fomentar a cultura cinematográfica local.
O japonês Akira Kurosawa não foi apenas um grande diretor de cinema. Usando uma linguagem cinematográfica talentosa, ele transmitiu sabedoria e ética durante 50 anos a multidões de todas as idades. Kurosawa teve sucesso de bilheteria como poucos. Sua obra permanece e permanecerá viva. Mas ele era um samurai do mundo das ideias, um guerreiro, e atribuiu o seu sucesso precisamente ao fato de jamais fazer um filme priorizando o êxito comercial.
Nascido em 23 de março de 1910, ele viveu 88 anos e pode ser considerado o maior diretor e roteirista de cinema de todos os tempos, desde o ponto de vista da filosofia esotérica.
Sua influência sobre outros diretores de cinema é enorme. Ele produziu 35 boas obras cinematográficas ao longo de cinco décadas de trabalho – de 1943 a 1993. Vários dos seus filmes são adaptações diretas de obras de William Shakespeare e Fiódor Dostoievsky, mas ele também foi influenciado por Leon Tolstoi, Máximo Gorki e outros grandes escritores. Apesar desse diálogo amplo com a literatura mundial, Kurosawa tem uma voz extremamente própria. Mestre da compaixão e da fraternidade sem fronteiras, sua obra é ao mesmo tempo profundamente japonesa e zen-budista.
Dono de uma visão universal e essencialmente teosófica, ele resgata a tradição dos samurais. Marcado pelas tradições do Oriente, ele reflete sobre a dor humana, a primeira nobre verdade de Gautama Buddha, enquanto luta pela ética e pela justiça nas relações sociais. A natureza, e a sua preservação, são outra constante em sua obra.
UM CINEMA QUE ENSINA A VIVER
Cerca de 30 filmes de Kurosawa podem hoje ser facilmente adquiridos no Brasil através das boas livrarias. Entre eles estão “Ikiru”(“Viver”) , “Rapsódia em Agosto”, “O Barba Ruiva”, “Derzu Usala”, “Depois da Chuva” e “Madadayo”.
Em “Ikiru”, um burocrata de carreira – perto de aposentar-se – descobre que irá morrer em breve devido a uma doença incurável, mas consegue redimir-se através da solidariedade para com todos os seres. “Rapsódia em Agosto” é a história de uma família geograficamente dividida entre vários países, que revive a destruição causada pelas bombas atômicas no Japão em 1945.
Em “O Barba Ruiva”, um grande médico defende a vida dos pacientes do hospital que dirige, enquanto luta com suas limitações e transmite coerência e sabedoria aos que o rodeiam. “Derzu Usala”, um dos filmes mais famosos de Kurosawa, é uma história de amizade, coragem e respeito pela natureza. “Depois da Chuva” conta a luta de um guerreiro budista e mostra como ele consegue vencer as dificuldades, mesmo enquanto segue princípios éticos em um mundo marcado pelo materialismo e pela ignorância. “Madadayo” é um dos filmes mais agradáveis e mais teosóficos de Akira Kurosawa. Através de uma bela história humana, o diretor faz uma reflexão poética e prática sobre o processo do envelhecimento e da morte, que ele descreve como uma feliz transcendência em direção ao mundo sutil e a uma nova vida.
Outra obra-prima de Kurosawa é “O Idiota”, filme baseado no romance de Dostoievsky. O fato único deste filme é a descrição vívida de como é tratada a alma espiritual – Buddhi, o Cristo interno – quando ela aparece com toda força na sociedade materialista. Totalmente destituído de astúcia pessoal ou de mecanismos de auto-defesa emocional, o príncipe que personaliza Cristo, ou Buddhi, é tratado como idiota e débil mental. A narrativa contém um estudo sobre a impossibilidade de um grande instrutor viver na atmosfera psíquica média da atual humanidade. É um filme de valor teosófico inestimável. No entanto, o final da narrativa tem um peso emocional excessivo, que arrasta para baixo o filme como obra de arte. Kurosawa não quis fazer no filme um final alternativo, que pudesse ser menos infeliz que o modo como culmina o romance de Dostoievski.